Em entrevista, o percursionista Mauro Refosco, filho de Joaçaba, dá mais detalhes sobre estar ao lado de uma das mais populares bandas do rock do mundo!
Quem nunca viajou através do próprio imaginário, de estar dividindo o palco ao lado de um grande astro da musica? O joaçabense, Mauro Refosco, foi um dos assuntos mais comentados na última semana no meio oeste, por ter conseguido tal façanha. Muito mais de estar dividindo palco com o Red Hot Chili Peppers, ele foi uma das peças fundamentais na concepção e gravação do último álbum da banda o “I´m With You”. Segundo o vocalista Anthony kiedis, em entrevista a jornalista Elaine Bast, para o Fantástico, no novo cd, o joaçabense é quinto elemento da banda. “A batida dele é incrível” falou o guitarrista, Josh Klinghoffer.
Nesse final de semana, Mauro concedeu uma rápida entrevista por e-mail, ao jornalista Paulo Afonso, já durante a turnê do novo disco. Lembrou-se dos tempos de infância e adolescência em Joaçaba, do inicio da carreira, da qualidade de vida da sua terra natal e principalmente de estar ao lado dos californianos do Red Hot Chili Peppers além é claro da sua banda, o Forro In the Dark, confira
Um dia você chegou a imaginar que estaria dividindo o palco com grandes nomes da cena musical mundial? Com tocou?
Boa pergunta. Acho que depende em que fase da minha vida que eu estava. Quando eu morava em Joaçaba, e se tornar um musico ainda nem se passava pela minha cabeça eu não imaginava uma coisa dessas acontecer comigo, mas com o passar do tempo e a dedicação aos estudos e horas e horas de pratica, os sonhos começaram a aparecer.
Acho que sonhar, desejar algo, e uma força propulsora muito forte, que te carrega a lugares inimagináveis. E isso em certo ponto do meu desenvolvimento musical foi fundamental. Foi oque me levou a ir morar em São Paulo, e depois a decidir morar em Nova York e agora a estar tocando com as pessoas que eu estou tocando.
Além do Chili Peppers, recentemente fiz trabalhos com o Thom Yorke, do Radiohead, David Byrne, Karina Zeviani, Vampire Weekend, e varios outros artistas. Além do Forro in The Dark, minha banda lá em Nova York.
Como foi o caminho até você chegar a estar nesse meio?
Com 15 anos a minha família (para minha tristeza) foi morar em Blumenau, aonde eu encontrei uma turma que gostava de tocar musica e tive acesso a professores de percussão na cidade de Curitiba, que era relativamente próxima a Blumenau. Aos 19 anos eu ingressei na faculdade de musica em Santa Maria no Rio Grande do Sul, mas depois de um ano eu transferi pra São Paulo.
Acho que não tem como não fugir das grandes cidades pra se dedicar de corpo e alma ao mundo das artes, pelo menos nessa fase de aprendizado, e eu saquei isso logo no começo dos meus estudos. Então, encarei essa mudança com muita vontade e coragem e sempre com o suporte da minha família.
Apos graduar pela UNESP em São Paulo, recebi uma bolsa de estudos para um mestrado nos Estados Unidos, e fui aceito numa escola em Nova York, que e uma cidade alucinante pra quem quer se dedicar a musica. Acho que a partir desse ponto eu comecei a sacar o que poderia fazer e quais eram os meus limites. As portas naturalmente foram se abrindo.
Foi também nessa época quando eu já estava morando e fazendo minha carreira em Manhattan, que eu entendi o quão importante Joaçaba foi na minha formação musical. O fato de a nossa cidade ter uma boa qualidade de vida, boa educação, princípios de família, associada à cultura popular. No caso as escolas de samba, que dentro de uma agremiação envolvem varias artes: musica, dança, figurino, historia, design, e etc... Acho que isso possibilita a expressão e o desenvolvimento artístico das pessoas, e faz com que a cidade esteja um passo adiante de outras.
Como surgiu a oportunidade de tocar com o Red Hot?
O convite de tocar com o Red Hot foi através do Flea, o qual eu conheci quando tocamos juntos na banda Atoms for Peace, montada pelo Thom Yorkfe, cantor do Radiohead. Rolou uma empatia musical e pessoal muito grande.
Como foi a produção do novo cd da banda. Segundo o pessoal aqui do Brasil, ele teve uma participação especial sua o que deu um tempero a mais... Conta como foram as gravações? Qual das músicas deste álbum tem mais a sua participação, digamos, que é mais a sua cara?
Eu participei das gravações desde o inicio, que eles chamam de basic tracks. Quando uma musica e primeira gravada no estúdio. Então eu pude no caso 'influenciar' um pouco mais o resultado final da musica. O disco foi feito de um jeito bem orgânico, com a banda tocando todos juntos e sem concertar muito as coisas. Tocávamos a musica duas ou três vezes e o pessoal escolhia qual tinha sido a melhor desempenho, e já partia pra outra. Em media gravava três musicas por dia.
No total eu participei de 25 musicas, mas a banda acho que terminou 50 musicas para no final escolher somente 14 que fariam parte do disco.
Quem escreve musica sabe o qual trabalhoso e compor um musica, imagina 50 musicas, e terminar todas. E um processo muito trabalhoso que durou mais de um ano para terminar.
Do que sente mais saudade de Joaçaba? Vem para cá quando? Disse na entrevista a Folha que vibrava com o som da bateria das escolas de samba. Quem sabe no carnaval?
Eu estive em Joaçaba na ultima vez em Dezembro de 2010, mas somente por um dia, tive que ir assinar uns documentos no cartório. Nunca tive a oportunidade de visitar Joaçaba durante o carnaval, porem já vi vários vídeos no youtube, e ate mostrei pro meu colega do Forro in The Dark que e baiano, e disse que o carnaval de Joaçaba dia desses vai ser mais famoso que o da Bahia.
Eu sinto falta da camaradice das pessoas, do calor humano, do sotaque carregado, chimarrão. Essas coisas todas que a gente só da o devido valor, quando não tem mais.
Quem sabe rola de aparecer por ai no próximo carnaval?
É verdade que quando estavas por aqui, vivia batendo em tudo que via pela frente, não perdoava panela, muro, lixeira etc.?
Sim, eu me lembro de levar panelas da cozinha da minha mãe pro quintal, e ficar horas batucando. Lembro-me também uma vez que meu irmão mais velho, o Júlio, chegou a casa com uma tarola de fanfarra do colégio Freio Rogerio, e eu fiquei fascinado pelo instrumento.
No estádio quando tinha jogo do antigo JEC, tinha sempre o pessoal fazendo um batuque, mas eles não deixavam botar a mão nos instrumentos. Mas eu sempre ficava colado neles, pra assistir aos jogos.
Lembro-me de uma escola de samba que nas noites do verão, ensaiava a bateria, na frente do Clube Cruzeiro.
Que dica você daria para essa moçada nova aqui de Joaçaba e Santa Catarina, que tá peleia diário para conseguir seu espaço?
Bom, uma dica geral é fazer oque tiver a fim de fazer, sem ter muita pressão em ser o melhor, ou um senso de competição, musica e uma coisa muito zen e de uma longevidade grande. A carreira de musico e muito longa, então as coisas podem acontecer muito rápido, ou podem ser mais devagar, mas com certeza em que paciência no final das contas pesa muito.
Acho que também tocar sem pensar muito em ficar rico ou coisas desse gênero, no final das contas o lado financeiro vai ser o resultado da sua dedicação. Bom, pelo menos foi assim comigo. Eu tive que abdicar de muitas coisas pra conseguir chegar aonde cheguei, mas faria o mesmo percurso sem mudar nada.
Créditos das fotos:
Mauro Refosco 1 - Suyeon Kim
Mauro Refosco 2 - Sebastian Lucrecio
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